Oro ao sonho

Eu te sinto do meu lado
Quando acordo de manhã
E carrego o mesmo fardo
De não ver-te em terra sã

Talvez seja apenas mito
Como as sombras de Platão
Sendo assim eu admito
Que já não há solução

Corro a dimensão do tempo
Saio e volto do lugar
Não te encontro no momento
que desejo te encontrar

Só que o meu desejo é turvo
E o Sonho turvo também
Parece reto o que é torto
Dentro do meu caos, amém.

Minha Seita

Se eu criasse minha seita
Conclave seria aberto
Todo mundo se aceita
E o céu seria perto
Se eu criasse minha seita
Tornaria bem depressa
Pecador quem desrespeita
Lua cheia como essa
Se eu criasse minha seita
Toda luz e escuridão
Nem errada nem direita
Comporiam a visão
Se eu criasse minha seita
O paraíso seria o fruto
Onde tudo se deleita
Homem, serpente e luto
Se eu criasse a minha seita
Seria divina a harmonia
E assim, música feita
Divinaríamos alegria

Quero saber, menina.


Quero saber, menina, como é capaz
De não se abalar com o bem que irradia
Mesmo ao espelho uma olhada fugaz
Como não pode se encher de alegria?

Quero saber, menina, como pode
Seu sorriso não ser fantasia
Como enxergar sua forma teoide
E não se inspirar a fazer poesia?


Quero saber, menina, como palpita
Tão sereno seu coração
Mesmo sabendo que o corpo que habita
Tem mais melodia que qualquer canção?

Quero saber, menina, como tu és
A mosca, a letra, a vela que acende
O transparente e imanente viés
Cujo a beleza a forma transcende?

Quero saber, menina, como se explica
Por Freud, Alan, Nietzsche, Jesus
O meu coração como é que fica
Ao que, a final, tua forma conduz?